As inovações disruptivas têm gerado transformações sociais e econômicas em todo o mundo. Tanto as tecnologias emergentes quanto os desafios ambientais refletem em novos estilos de vida ditados pela conectividade e sustentabilidade, que geram mudanças nas relações e ética de consumo. A velocidade e emergência dessa revolução está acelerando a dinâmica do mercado, de tal modo que saber identificar as megatendências globais se tornou um dos maiores atributos para manter a sobrevivência das organizações.
As megatendências são previsões de mudanças a longo prazo com potenciais de impactar o mundo e causar múltiplas transformações em todos as camadas da população e esferas sociais. Afetam todas as atividades humanas desde as áreas econômicas, políticas, ambientais e tecnológicas.
A análise da relação entre as megatendências e o ambiente interno e externo dos negócios é tão importante que desperta interesse de muitos analistas. Assim, diversos estudos buscam elencar as projeções mundiais. Uma análise que considero bem relevante é a dos professores David Zini e Flavio Nusbaume, associados à reconhecida escola de negócios FDC. Os autores problematizam a necessidade de os gestores estarem vigilantes ao cenário interno e externo das organizações e traçam megatendências globais. Conhecer esses fatores é vital, pois a capacidade de prever o futuro e se adaptar a ele é o principal diferencial para manter uma empresa competitiva. Ao contrário, uma leitura equivocada pode fazê-la sucumbir.
Nesse contexto de entrada na quarta revolução industrial, as tecnologias emergentes são o motor das transformações. A posição dos professores é bem contundente ao destacar três inovações como as mais expressivas: inteligência artificial, que basicamente assumirá o papel de todos os processos repetitivos e sistemáticos; a IoT (internet das coisas), indispensável para interconexão de objetos do dia a dia com a internet; e a impressão 3D.
Podemos aproveitar o exemplo da impressão 3D para compreendermos o impacto da imersão em massa dessas inovações. A substituição da produção “tradicional” em fábricas por serviços de impressão 3D descentralizados pode afetar cadeias produtivas inteiras. Afinal, os consumidores poderão, a um toque de seus celulares, encomendarem produtos personalizados ao invés de comprá-los prontos. Assim sendo, como um gestor poderia adaptar seu negócio? Como rever o foco de seu mercado? Então, que tal fornecer a logística para a matéria prima da impressão 3D? Zini e Nusbaume nos provocam a pensarmos nesses tipos de soluções. Manter a competitividade dos negócios exigirá muita reflexão e raciocínio rápido.
Conectividade e consumo sustentável
A conectividade, com destaque para redes e mídias sociais, será a palavra de ordem das megatendências, o que deve acelerar o processo de transformação digital das empresas. Nesse arcabouço, coletar dados sobre a jornada do cliente e tratá-los para enxergar potenciais conversões passará de diferencial para exigência de mercado.
Modelos de negócios com estoques centralizados, como o da Amazon, devem ganhar mais espaço com a popularização de soluções logísticas inteligentes, entre elas robôs de movimentação de carga interconectados a plataformas de vendas. Estimam-se avanços nos processos de desmonetização, desmaterialização das coisas e acesso universal das informações.
A economia compartilhada se consolidará à medida que as pessoas busquem uma nova ética de consumo, alinhada à transformação social e ao respeito ao meio ambiente. Aliás, a sustentabilidade já é uma premissa que influencia cada vez mais os consumidores, sobretudo no que diz respeito a ações para enfrentamento das mudanças climáticas, que exige esforço conjunto de nações e organizações.
Para aderir à visão cosmopolita, as empresas precisarão até mesmo colaborar para o equilíbrio no avanço das megatendências. Um relatório da Rede de Economistas da ONU defende cooperação em áreas aparentemente não relacionadas, como digitalização, planejamento urbano e produção de energia, em prol de um crescimento com menos impactos ambientais. Nesse sentido, podemos afirmar que o propósito da empresa falará alto na decisão de compra. Fator que exigirá grande empenho de governança corporativa.
Deslocamento do poder econômico Global
Também merecem destaque previsões dos relatórios da PwC, multinacional referência nas áreas de auditoria, e da Euromonitor International, líder mundial em pesquisa estratégica. Eles acrescentam o deslocamento do poder econômico global, como guerras cibernéticas entre potencias globais; e a urbanização acelerada, que requer cidades mais inteligentes, como megatendências impactantes no mundo dos negócios.
As mudanças demográficas e sociais também exigirão adaptações. O envelhecimento da população implicará em novos estilos de vida e, assim, outras necessidades de consumo. Em relação às novas gerações, o desejo por ambientes de trabalho mais flexíveis exigirá mudanças nas estruturas de gestão.
Note como a análise desses impactos são imprescindíveis para preparar o futuro das organizações. É importante lembrar que tratamos de megatendências na esteira da quarta revolução industrial. Nesse cenário, as estratégias para sobrevivência das empresas podem perpassar por transformações profundas, atreladas à expansão de mercados, mudança de público-alvo e adaptações para atender novas expectativas dos consumidores. Com tudo isso, poucas companhias vão fugir da necessidade de um reposicionamento de marca.
Por Cleverson Siewert
Engenheiro Civil pela UFPR e pós-graduado em Marketing e Gestão Empresarial pela FGV/RJ, iniciou a carreira na Tigre Tubos e Conexões; tornou-se o Secretário de Estado da Fazenda mais jovem do país na época, aos 33 anos, e operou uma transformação na Celesc, como diretor, conselheiro e presidente da companhia. Atualmente é CEO e conselheiro do Ascensus Group, que atua com comércio exterior, finanças, imóveis e energia; além de fazer parte do Conselho de Administração do Goedert Group.