A luta pela igualdade de gênero é um desafio diário. Mas não basta que as mulheres ocupem os mais variados espaços na sociedade, é preciso mudar a cultura que as mantém longe dos lugares de decisão. Como disse Beyoncé: “Precisamos redefinir nossa própria percepção de como nos vemos. Temos de nos erguer como mulheres e tomar a liderança”.
Essa mudança de percepção começa pelo reconhecimento de mulheres inspiradoras que lideram em diferentes áreas e estão transformando o mundo. E quando elas assumem o poder, há uma grande chance de que isso seja bom para todas e todos.
Por exemplo, nos negócios, um estudo do Boston Consulting Group analisou 1.700 empresas de oito países diferentes e revelou que lideranças mais diversas trazem um retorno 19% maior por causa da capacidade de inovação.
Além de trazerem mais riqueza, as líderes também distribuem mais. Segundo o Índice de Igualdade de Gênero da Bloomberg, empresas com CEOs mulheres têm mais representatividade feminina nas funções de gerência sênior e maior participação entre os cargos mais bem remunerados da organização.
Conheça, então, dez mulheres inspiradoras que são exemplos de liderança, pioneirismo ou proeminência em suas áreas.
Elas se destacam: conheça mais de 10 mulheres inspiradoras da atualidade
Negócios: Mary Barra
Existem muitos bons exemplos no Brasil e no resto do mundo de mulheres com imenso sucesso empresarial.
Por aqui, Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, é a única representante feminina na lista das dez maiores fortunas do País. Lá fora, Dra. Lisa Su virou notícia em 2020 ao tornar-se a CEO com maior salário entre as 500 empresas mais bem avaliadas da Bolsa de Valores dos Estados Unidos. À frente da AMD, que atua no mercado de processadores, as ações da companhia cresceram mais de 2.000%.
Mas o título de mulher de negócios mais poderosa do mundo fica com a estadunidense Mary Barra, segundo a Forbes. Barra é CEO da General Motors, sendo a primeira mulher na liderança de uma montadora global. Ela está no cargo desde 2014, guiando a transição da companhia para um mundo de carros autodirigidos e movidos a eletricidade.
Finanças: Christine Lagarde
Também não faltam exemplos da presença das mulheres no campo das finanças, dos investimentos à educação financeira do público, da teoria à política monetária.
Hoje, o maior nome nessa área é o da francesa Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu. Essa é a principal instituição responsável pela gestão do Euro e da política monetária entre os países da Zona do Euro, na União Europeia. Vale destacar que a região forma a terceira maior economia do mundo, atrás de Estados Unidos e China, em termos de produto interno bruto.
Antes de assumir a presidência, o currículo de Lagarde já impressionava. Na França, ela atuou como Ministra de Comércio, Ministra da Agricultura e Ministra de Economia, Finança e Indústria, quando foi eleita pela Financial Times como a melhor ministra de finanças da Zona do Euro.
Entre 2011 e 2019, Lagarde ainda foi diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo. Com esse histórico de liderança, a Forbes a define como a segunda mulher mais poderosa do mundo, atrás apenas da chanceler alemã Angela Merkel.
Causas sociais: Stacey Abrams
A advogada e política Kamala Harris fez história nos Estados Unidos ao assumir a vice-presidência do país como a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira pessoa de origem asiática no cargo. Mas esse resultado só foi possível graças ao trabalho incansável de diversas ativistas nos EUA, em especial Stacey Abrams.
A também advogada e política dedica a vida a aumentar a participação negra no processo eleitoral. Historicamente, os eleitores negros nos EUA votam mais no partido Democrata, vencedor da eleição presidencial de 2020.
O jornal The New York Times aponta que o trabalho de Abrams e de uma rede de organizações sociais trouxe um número estimado de 800 mil novos registros de eleitores no estado da Georgia, que se provou decisivo para a vitória de Joe Biden e Kamala Harris. Ali, a diferença foi de apenas 11.779 votos a favor dos Democratas.
Como diz Greta Thunberg, outro grande exemplo de mulher ativista: “Você nunca é pequena demais para fazer a diferença”.
Planejamento urbano: Anne Hidalgo
Há mulheres inspiradoras que também estão pensando no futuro das cidades, com foco em sustentabilidade, segurança, eficiência e bem-estar. Entre as lideranças dessas cidades inteligentes, Anne Hidalgo foi a primeira mulher a assumir a prefeitura da capital francesa, em 2014, sendo reeleita para o cargo em 2020.
Durante seu mandato, tem enfrentado o desafio de reduzir o uso de veículos individuais e estimular a adoção do transporte público e de meios não poluentes, como as bicicletas. Para isso, implementou medidas que de fato restringem a circulação de carros em determinadas áreas e dias, e ampliou a oferta de alternativas de transporte.
Com o exemplo de Hidalgo em uma das maiores metrópoles mundiais, outros cantos do globo podem se inspirar rumo a um futuro melhor, inclusive no Brasil. Além disso, a participação feminina no planejamento urbano ajuda a tornar a cidade mais habitável para elas.
— O planejamento e a gestão das cidades brasileiras costumam negligenciar as mulheres. É hipocrisia defender “cidades para as pessoas” enquanto se normaliza o assédio sofrido por elas no transporte público e a insegurança que enfrentam ao circular sozinhas pelas ruas, entre tantos outros desafios de ser mulher no urbano. Uma cidade que não é realmente “para todos” é uma cidade mais difícil para alguns. As mulheres precisam estar em espaços onde possam mudar esta realidade, seja na associação de bairro, seja na prefeitura municipal — declara Ágatha Depiné, advogada urbanista e editora do Urban Studies.
Ciência e tecnologia: Sabrina Pasterski
Estar entre as 100 maiores inovadoras, artistas, cientistas e visionárias do nosso tempo não é para qualquer pessoa. Ainda mais aos 25 anos. Mas esse foi o feito alcançado pela física estadunidense Sabrina Gonzalez Pasterski, cuja distinção como uma das grandes mentes da atualidade foi conferida pela Fundação Albert Einstein.
Aos 10 anos, ela já fazia alterações em aviões. Aos 14, já pilotava sozinha. Aos 23, graduou com nota máxima no exigente Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde já estudaram 97 ganhadores do Prêmio Nobel. Nessa época, também já era uma das maiores promessas da ciência, segundo a Forbes.
Entre os trabalhos desenvolvidos por Pasterski está a descoberta do “efeito de memória spin”, que pode ser usado para verificar os efeitos das ondas gravitacionais. Inclusive, suas pesquisas já foram citadas em estudos por Stephen Hawking, um dos maiores cientistas do dos últimos 100 anos.
Leia também: Mulheres na tecnologia: rompendo a barreira de gênero nas empresas
Controle da pandemia: Jacinda Ardern, Tsai Ing-Wen e Sheikh Hasina
Dados do Fórum Econômico Mundial e do Centro de Pesquisa de Políticas Econômicas mostram que os países liderados por mulheres têm melhor resposta diante da pandemia do novo coronavírus. Segundo a análise, uma possível explicação está nas políticas proativas e coordenadas que elas adotam.
Temos diversos exemplos de países com lideranças femininas que implantaram medidas de prevenção mais cedo, ouvindo os apelos da ciência, e conseguiram controlar a pandemia em seus territórios. Destacamos entre elas Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, Tsai Ing-Wen, presidente de Taiwan, e Sheikh Hasina, primeira-ministra de Bangladexe.
A discreta Nova Zelândia, com seus quase cinco milhões de habitantes, registrou menos de 2.400 casos e menos de 30 mortes em um ano de pandemia, fechando 2020 com crescimentos recordes na economia. Na primeira semana de março de 2021, a taxa de mortes por 100 mil habitantes ficou em 0,53. Como comparação, a taxa é de 123,78 no Brasil, 158,43 nos Estados Unidos e 186,52 no Reino Unido.
Taiwan é maior, chegando a 23,6 milhões de habitantes, contudo apresenta uma das menores taxas de mortalidade por Covid-19 no mundo: 0,04 por 100 mil habitantes. Já Bangladexe tem expressivos 161 milhões de pessoas, enquanto a taxa de mortalidade está em 5,22.
Nesse sentido, vale lembrar uma frase de Michelle Obama, advogada, autora e ex-primeira dama dos Estados Unidos: “Nenhum país pode florescer de verdade se ele restringe o potencial de suas mulheres e priva-se da contribuição de metade de seus cidadãos”.
Saúde: Özlem Türeci e Katrin Jansen
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 70% da força de trabalho na área da saúde é composta por mulheres. Mas, além dos cuidados imediatos na linha de frente da pandemia, há pelo menos dois exemplos de lideranças femininas atuando no desenvolvimento da tão necessária vacina.
Um desses exemplos é o de Özlem Türeci, médica, cientista e empreendedora alemã. Ela é cofundadora da BioNTech, a companhia de biotecnologia que desenvolveu a primeira vacina aprovada contra Covid-19, com base no RNA do vírus.
Esse feito é fruto de uma parceria com a Pfizer, que tem como líder de pesquisa de vacinas a também alemã Katrin Jansen. Ela coordenou uma equipe de 650 especialistas nessa tarefa, que deve resultar na produção de quase 2 bilhões de doses da vacina em 2021.
Moda e beleza: Rihanna
Muitas estrelas da música já tentaram seguir carreira nos negócios, mas poucas tiveram tanto sucesso e impacto quanto Robyn “Rihanna” Fenty, natural de Barbados.
O rol de empreendimentos de Rihanna inclui perfumes, programas de TV, uma gravadora e um serviço de streaming de áudio. Mas é nos mercados de beleza e moda que ela mais se destaca, com as marcas Fenty Beauty (maquiagem), Fenty Skin (cuidados com a pele) Savage X Fenty (lingerie) e Fenty (alta costura), esta do conglomerado LVMH.
Além do retorno que ela tem, alcançando uma fortuna estimada em 600 milhões de dólares, a importância de Rihanna deve ser vista pelo que traz de novo ao mercado. Suas marcas têm sido referência tanto em comunicação quanto em oferta de produtos na diversidade racial e de faixas etárias. Mais ainda, é uma personalidade notória pela filantropia e por enfrentar a violência contra a mulher.
Entretenimento: Anitta
Do Rio de Janeiro para o mundo, o Brasil tem seu próprio caso de sucesso de uma cantora que virou exemplo nos negócios.
Como artista, Anitta foi a segunda mulher mais ouvida pelos brasileiros no Spotify em 2020, atrás de Marília Mendonça, e seus hits já entraram nas paradas internacionais. Contudo, o que mais surpreende nessa trajetória meteórica — seu primeiro contrato musical foi assinado em 2010 — foi a transformação da artista Anitta em uma poderosa marca.
Por meio de parcerias musicais, cocriações com empresas e produções audiovisuais, como uma nova série na Netflix que estreou em 2020, ela expande seu nome dentro e fora do Brasil. Não à toa, é tida como exemplo de marketing e convidada a dar palestras em grandes eventos, até no exterior.
Esporte: Naomi Osaka
Existem muitas formas de desigualdade de gênero e o desequilíbrio entre o quanto homens e mulheres ganham é uma delas. Isso ocorre desde o mercado de trabalho até o bilionário universo do patrocínio esportivo.
Para se ter uma ideia dessa desigualdade, a Forbes elencou os 60 atletas mais bem pagos no mundo em 2020. Na lista, aparecem apenas duas atletas mulheres: as tenistas Naomi Osaka, representando o Japão, e Serena Williams, dos Estados Unidos. Elas estão em 29º e 33º lugares, respectivamente.
Osaka tornou-se a mulher mais bem paga nos esportes graças a uma série de patrocínios que buscam capitalizar a imagem da esportista, que joga pelo Japão às vésperas da Olimpíada de Tóquio. E o desempenho em quadra justifica o investimento: ela é uma das dez maiores tenistas mulheres no ranking da Associação Mundial de Tênis.
Recentemente, Osaka venceu o Aberto da Austrália de 2021. Com isso, ela soma sete títulos na carreira, sendo quatro de Grand Slams, e promete se tornar cada vez mais conhecida.
Além dessas mulheres inspiradoras em diferentes áreas, muitas outras poderiam ser mencionadas. Então, se a competência feminina não tem limites, nossa sociedade não pode continuar limitando seu potencial.
Quer conhecer mais exemplos inspiradores de mulheres no poder? Então confira nossa lista com 10 CEOs brasileiras que estão mudando os negócios no País.