As tecnologias de aprimoramento de privacidade, ou privacy-enhancing technologies (PETs), foram apontadas pela Kantar no relatório “2024 Media Trends & Predictions” como uma das maiores tendências de mídia atuais. Isso porque ela surge a partir de uma disputa acirrada entre consumidores e negócios.
De um lado, temos as empresas que precisam coletar e analisar dados. Assim, elas podem entender melhor o comportamento do público, aperfeiçoar produtos e campanhas de marketing, entre outras funções.
De outro, os usuários têm direito à privacidade dos dados pessoais, assegurada pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em vigor no Brasil. A procura pelo anonimato digital, inclusive, é a principal razão para o crescente uso de redes privadas virtuais, ou VPNs, que criptografam a conexão com a internet, ocultando a localização de acesso. Outro exemplo nesse sentido é o crescimento do buscador Duck Duck Go, que não coleta dados privativos.
Mas você sabe o que são as tecnologias de aprimoramento de privacidade? Acompanhe a explicação do Negócios SC.
O que são tecnologias de aprimoramento de privacidade (PETs)?
As tecnologias de aprimoramento de privacidade são soluções digitais que permitem a coleta, o processamento, a análise e o compartilhamento de informações de maneira que a confidencialidade e a privacidade dos dados seja preservada. Essa é a definição que consta no relatório “Emerging privacy-enhancing technologies”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
As PETs, como também são chamadas, referem-se a diferentes tecnologias de software e hardware com um objetivo comum: extrair dados — e obter os benefícios associados a essa tarefa — sem prejuízo à privacidade e à segurança da informação. A cada nova notícia de vazamento de dados, a importância desse cuidado fica mais evidente.
Também vale lembrar que não são apenas as empresas que dependem de um grande volume de dados. Pesquisadores, sistemas de saúde, instituições financeiras, governos e outras entidades precisam dessa base para chegar a descobertas científicas, criar novas soluções para o público e orientar políticas mais representativas.
Ao mesmo tempo, é preciso manter a identidade pessoal de cada indivíduo fornecedor de dados em sigilo.
Um exemplo popular no Brasil é o Censo do IBGE. Digamos que João da Silva tenha respondido ao recenseador sua idade, sua renda, o número de pessoas que vivem em sua casa, quais eletrodomésticos possui e assim por diante.
No processamento e análise desses dados, assim como na divulgação dos resultados, tais informações não podem ser rastreadas de volta a João. O que se pode saber é que, em determinada região, existem tantas pessoas como João da Silva e com certo padrão de vida.
Mas como garantir esse anonimato? Aí entram as tecnologias de aprimoramento de privacidade.
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Exemplos de tecnologias de aprimoramento de dados
Há diferentes maneiras de classificar as tecnologias de aprimoramento de dados. Algumas são bastante simples, como a determinação da LGPD para que as empresas coletem apenas o essencial para a prestação do serviço. Outras envolvem até o uso de inteligência artificial.
Conheça melhor os exemplos!
Criptografia
Nesse caso, são aplicados algoritmos para encriptar os dados. Por exemplo, na encriptação homomórfica, apenas o proprietário dos dados pode comparar os resultados cifrados com a base original. Se um terceiro analisar os mesmos dados, só terá acesso à versão encriptada.
Na privacidade diferencial, é adicionado ruído ao conjunto de dados para manter a anonimidade dos indivíduos. Já a prova de conhecimento zero permite validar uma informação dentro de um conjunto de dados sem revelar os dados que a comprovam.
Ofuscação ou mascaramento
Aqui são empregados métodos de substituição ou redirecionamento de dados para que não possa ser identificada a fonte original. Por exemplo, a pseudoanonimização e a anonimização podem trocar uma informação sensitiva, como o nome, o endereço de IP ou o e-mail do usuário, por um registro fictício, descartável e irrastreável.
Inteligência artificial
Além de atuar no processamento e análise de big data, a inteligência artificial é uma das tecnologias de aprimoramento de privacidade. O modelo de aprendizagem federada, por exemplo, armazena e analisa dados em dispositivos individuais, como smartphones, enquanto envia apenas instruções resumidas a um modelo central.
A geração de dados sintéticos é outra contribuição da IA para aumentar a privacidade de dados. Isso porque ela recria as características estatísticas do conjunto de dados original, de maneira que a fonte real permaneça oculta. Assim, é possível compartilhar o conjunto de dados sintéticos com parceiros sem risco de comprometer o anonimato dos usuários.
Tecnologias de aprimoramento de privacidade e a mídia
Como destaca a Kantar: “o desafio de medir o desempenho do anúncio sem invadir a privacidade do usuário está sendo enfrentado de frente pelas PETs”. Na era da LGPD e de uma internet que procura se afastar dos cookies, essa é uma esperança para o marketing.
O trabalho das marcas, daqui para a frente, continuará sendo o de equilibrar personalização e privacidade no tratamento de dados. Mas, conforme as PETs forem se desenvolvendo e terem uma adoção cada vez maior, isso ficará mais fácil.
Aproveitando o tema, conheça agora os maiores desafios dos profissionais de marketing para 2024 e além.